sexta-feira, 8 de agosto de 2008

é preciso priorizar

em todos esses anos, nunca vi lei, mandamento ou preceito moral que se colocasse entre um empregado dessa firma e a obtenção de um porta-crachá. amizades de décadas ruíram em minutos, pessoas notoriamente honradas cometeram atos indscritíveis, vidas se modificaram de formas irreversíveis - tudo por causa desse pequeno objeto.

trata-se de um pequeno cilindro plástico, dentro do qual são enrolados alguns centímetros de linha elástica. uma das pontas dessa corda é amarrada dentro do cilindro e a outra recebe uma presilha, onde o proprietário pode prender o seu crachá. o grande benefício desse artefato é a comodidade: com ele, seu detentor não se vê obrigado a se inclinar para realizar sua identificação ao chegar no trabalho. com um simples puxão, levava a identidade profissional à altura da catraca e liberava sua passagem em posição ereta. uma beleza de produto.

a organização oferecia pouquíssimos porta-crachás. satisfeita, via empregados trabalhando por quatorze horas diárias, dispensando férias e ignorando famílias, tudo isso para atingir as metas requeridas para se concorrer a essa benesse. também lembrava, com preocupação, o lamentável caso do funcionário que se matou depois de quebrar acidentalmente seu prêmio (todos sabiam que a reposição era proibida). tinha quase vinte anos de casa e dois filhos.

era uma história triste, mas foi uma fatalidade. no geral, a empresa estava alinhada com as últimas tendências administrativas: premiava os colaboradores de melhor perfomance e preocupava-se com a saúde de seu corpo funcional. havia pouco tempo, foi eleita pela sétima consecutiva como um dos melhores lugares para se trabalhar por uma publicação especializada, que ressaltou em uma reportagem especial o novo e revolucionário bônus que seria oferecido a partir do ano seguinte: os porta-cartões de couro.

o departamento de rh não sabia o que fazer com tantos currículos.

Um comentário:

Anônimo disse...

curicolozx