estava no toilette outro dia, sendo repreendido pelas minhas entranhas por algumas más escolhas alimentares, quando surge uma barata na minha frente. a periplaneta até tentou executar sua rotina, aquele negócio de ficar andando de um lado por outro, balançando as antenas e horrorizando uma grande parcela dos seres humanos que hoje habitam nosso planetinha, mas um exame mais detido do animal me fez perceber que ali havia algo errado. o bichinho tinha sérias dificuldades de locomoção por causa de algum problema nas patas traseiras, que não pareciam se mover - tinham que ser arrastadas.
claramente ciente da inutilidade do esforço, o artrópode parou na minha frente e ficou olhando para mim. o meu sono e as suas dimensões baratísticas não me permitiram identificar a expressão facial do meu companheiro, mas poderia apostar que era uma cara de enfado e resignação, típica de alguém prestes a dizer algo como "bem, eu sou um invertebrado, ninguém gosta de mim, eu vivo no esgoto e, como se não bastasse, dois dos meus seis membros são inúteis. o que você quer?". larguei o livro que geralmente me acompanha nesses momentos de reflexão e contemplei a barata, consciente da minha posição de domínio. seria o caso de uma chinelada de misericórdia? um esquartejamento, para lembrar os tempos em que formigas e pernilongos sofriam em minhas mãos infantes? puro e simples desprezo?
resolvi acomodá-la numa caixa de altoids e deixá-la no banheiro. barata come qualquer coisa, é um bicho que não dá trabalho nenhum, e é tão simpático quanto um peixe dourado ou uma tartaruga, um companheirão pros momentos de tristeza e raiva, quando você precisa de alguém pra desabafar, mas sabe que seus amigos de merda não vão te deixar falar, sempre achando que os problemas ridículos deles são maiores que os seus. hoje em dia, a gente tem uma relação ótima: eu sou super cuidadoso com ela, apenas pedindo em troca o ombro amigo e um pequeno número de entretenimento para os meus convidados. quando vai alguém lá em casa, busco a latinha no lavabo e solto a fernanda (é o nome dela, em homenagem a uma famosa apresentadora do gnt) no chão da sala, onde ela fica zanzando, toda desesperada e ridícula, até eu guardá-la de novo. o pessoal adora. principalmente a criançada.
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Um comentário:
fernanda, obrigada por me deixar dormir.
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