sentado na cadeira dura que não sustenta devidamente a minha lombar - em breve o corpo cobrará o preço pela intransigência -, observo a tela de plasma que divulga informações equivocadas para as dúzias de pessoas que se apinham ao redor do portão de embarque. o vôo está confirmado para doze minutos atrás; o "now boarding" em letras vermelhas é refutado pela ausência de funcionários da companhia. como resposta, os futuros passageiros acham por bem formar uma fila inútil na frente do portão pré-indicado. seja lá onde darwin está, tenho certeza que nesse momento ele questiona sua teoria mais famosa.
em busca de um posicionamento que não afete eternamente minha capacidade de andar ereto, roço os cotovelos em minha barriga e me desanimo um pouco com os excessos adiposos que saltam da área; pelo menos o fim de ano está aí. assistimos mais uma são silvestre, compramos mais um calendário, abraçamos gente desconhecida e prometemos um monte de mudanças que já deveriam ter sido feitas há algum tempo. o reflexo na tela do notebook é desanimador, mas ano novo é vida nova: 2010 será um tempo de menos bochechas.
questiono-me pela tricentésima vez sobre a decisão de comprar um computador portátil. os dedos grossos e desajeitados tornam a digitação correta de cinco palavras consecutivas uma façanha - e isso sem considerar a tremedeira que me acomete há alguns meses, outro problema cuja resolução foi postergada para o ano vindouro. o touchpad é uma invenção louvável, seria impossível utilizar um mouse nessas condições, mas não me vejo dominando essa porcaria nem se vivesse até a próxima era glacial. aliás, fica aqui meu abraço pra dell, que me enviou o laptop na data combinada, mas sem o ratinho salvador: esse, só na segunda quinzena de janeiro. putos.
também prossigo incomodado com o calor que atinge meus testículos devido à posição do computador - aliás, é uma questão que me afeta já algum tempo, apesar de o bom senso indicar que se houvesse algum problema sério relacionado ao apoio de notebooks no próprio corpo, a comunidade científica já teria me alertado. em primeiro lugar, acredito que exista por aí muita coisa que a gente ainda não sabe explicar direito. além disso, se há uma lição que os meus vinte e seis ponto cinco anos me ensinaram, é que nunca se deve confiar inteiramente no bom senso humano. de qualquer forma, taí mais um hábito para ser modificado no exercício que em breve se iniciará.
já com uma boa lista para recepcionar a próxima década - mais exercícios, menos carboidratos, mais notebook na mesinha, menos superanálise de asneiras, mais cuidado com as supercorporações, menos hífens e ponto-e-vírgulas (vai saber se esse é o plural correto) nos textos, que eu não sei porque, mas estou usando em demasia -, observo a funcionária da compania aérea se aproximar do microfone e apertar o botão que ativa o "blim-blom" protocolar que antecede os avisos. sagaz, vejo que só há um võo da webjet listado e que um aeroplano da empresa está estacionado no pátio; tudo isso significa vitória. em breve estarei embarcando.
sendo assim, preparo-me para guardar o computadorzinho e seguir o meu caminho, rumo ao cumprimento de mais um dos diversos ritos semi-obrigatórios de passagem. esse é o momento onde normalmente viria o final sarcástico, questionando tradições e atacando alvos batidos, mas respeitem meu momento de transição e escondam o sorriso enquanto contemplam minha postura positiva e confiante em relação ao que virá. a maioria continua fumando ano após ano, mas sempre tem um ou dois que conseguem largar.
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