valdenor sempre foi um boçal e um perdedor. era considerado pouco brilhante, nunca teve sorte com as moças, tinha poucos amigos e pulava entre empregos merdas que o pagavam mixarias. olhando sua vida, é admirável que ele tenha conseguido dar a volta por cima com uma única mudança: abandonou o português e passou a se comunicar exclusivamente em espanhol.
os únicos contatos que ele teve com a língua de cervantes ocorreram na adolescência - de vez em quando assistia algumas aulas da disciplina no colégio, apesar de preferir o consumo de cola de sapateiro nessas ocasiões. além disso, também tinha uma constrangedora simpatia pela shakira (hoje ultrapassada), e as letras da colombiana ampliaram suas habilidades nesse idioma. seus conhecimentos eram bastante escassos, mas não fazia muita diferença; era só falar depressa e demonstrando confiança, sem a afetação e os tropeços de quem brinca de portunhol.
depois que era identificado como um possível estrangeiro, era tratado como nunca havia sido em toda sua vida medíocre. as pessoas o achavam sofisticado, fascinante. mostravam-se prestativas e interessadas. até reconheciam traços estrangeiros em suas feições, apesar de o rapaz ter nascido e crescido no sul da bahia, e pela primeira vez na vida era visto como um homem bonito.
obteve status, conquistou mulheres, tornou-se popular. era um sucesso. apenas se preocupava com os raros infelizes detentores de um conhecimento razoável em espanhol, mas isso não era um problema dos maiores. ao encontrar um desses malditos, era só enfiar-lhe a mão na cara, correr o mais rápido possível e, caso necessário, colocar a culpa daquela explosão em seu temperamento exótico. os brasileiros sempre entendiam.
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Um comentário:
tetesto o valdenor (porque caí na dele)
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