segunda-feira, 18 de agosto de 2008

empate por pontos

a luta final na categoria médio ligeiro da xi olimpíada do serviço público federal prometia. defendendo o cinturão, o tri-campeão arnaldo moreira, com um impressionante cartel de 51 vitórias (36 por nocaute) e duas derrotas. seu adversário era josé antônio saraiva, jovem de 26 anos que compensava sua inexperiência com um jogo de pernas agilíssimo e uma direita destruidora. muitos pensavam que naquele embate a tocha seria passada - para eles, moreira estava velho demais e não conquistaria o inédito tetra-campeonato. saraiva poderia dominar a competição por anos, talvez décadas. em várias repartições, a luta era o principal assunto nas conversas ao redor dos bebedouros.

no grande dia, reuniu-se o maior público para uma luta de boxe amador na capital federal. cada um dos presentes parecia ter um favorito e a atmosfera era elétrica. os oponentes foram ao centro do ringue e se encararam, trocando olhares raivosos, enquanto ouviam as instruções do árbitro. terminada a palestra do juiz, era só esperar o sinal do gongo... que não veio.

o auxiliar apertava raivosamente o botão que ativava o instrumento, mas havia um problema; ouvia-se apenas um clique baixinho e seco, ao invés do ruidoso barulho que daria início ao combate. o árbitro, também impaciente, deu alguns passos para trás e questionou os seus ajudantes sobre a demora, recebendo como resposta o problema na aparelhagem. seria impossível fazer soar aquela chapa de bronze.

foi recomendado que o condutor da peleia informasse os adversários sobre a situação e desse um comando para que se iniciasse a disputa, mas ele (funcionário público aposentado e entusiasta do boxe) não concordou com a sugestão - exigia que os regulamentos fossem seguidos. os lutadores, por sua vez, avisaram que se manteriam imóveis até que recebessem uma permissão pública e que conferisse à autoridade vigente a responsabilidade pelo início da contenda. já os mesários argumentavam a favor do princípio da batalha, mostrando o termo de iniciação de atividade esportiva assinado e lembrando a burocracia necessária para anular aquele documento.

ficaram todos nesse impasse, parados e sem fazer nada, até que o relógio anunciou as quatro da tarde. nessa hora, se reuniram em um canto do galpão, onde estava sendo servido um lanchinho, café ruim e biscoitos maizena. o agrupamento durou cerca de uma hora e meia, e quase todos (sempre tinha um grupinho que impossibilitava a unanimidade, seja lá qual fosse o assunto) concordaram que o melhor a fazer era postergar a luta. era o oitavo adiamento.

sobre o documento, atingiu-se um consenso: melhor todo mundo fingir que não viu.

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