três dias depois do seu 22o aniversário, cleison notou que algo estava acontecendo. sempre foi um rapaz raquítico e enfrentava grandes dificuldades para levantar mais peso que as mulheres que frequentavam a mesma academia que ele, mas de uma hora para outra nenhum daqueles aparelhos oferecia qualquer resistência. foi assim que percebeu que, por alguma razão que desconhecia, havia obtido força sobrehumana.
depois da descoberta, passou o fim de semana pensando em como poderia ajudar a humanidade com esse poder, e chegou à conclusão que isso daria trabalho demais - era um cara bastante preguiçoso. no fim das contas, manteve a mesma vida de auxiliar de escritório e só usava esse dom quando ia pro bar da esquina depois do expediente, onde sentava-se ao lado da mesa de sinuca e começava a rasgar listas telefônicas e entortar canos de metal, para diversão dos frequentadores.
essas demonstrações chamaram a atenção de elizete, mulher de personalidade forte, interessada em homens viris. aproximou-se de cleison, bateram um papo, encontraram interesses em comum e assim iniciou-se um relacionamento turbulento; muito mais perigoso que os músculos dele era o gênio dificílimo dela. várias foram as discussões.
a pior delas, a derradeira, foi em um restaurante chinês. ofendida por achar que seu namorado havia olhado para as nádegas de uma garçonete - uma oriental estereotípica, de belas feições mas totalmente desprovida de bunda -, armou um escarcéu e começou a berrar insultos no meio do estabelecimento lotado. cleison respirou fundo, tentou relevar, sabia que continuar aquela discussão só traria mais problemas, mas não aguentou e, em um acesso de fúria, socou violentamente a mesa, que se partiu em dezenas de estilhaços, como se fosse feita de isopor.
alguns segundos depois, vem correndo de dentro da cozinha o proprietário, brandindo um revólver e gritando em mandarim, transtornado pela bagunça causada pelo casal e pelos seus efeitos em uma noite cheia no restaurante. apontou a arma para a testa do rapaz e o viu choramingando, pedindo clemência e quase urinando nas calças, enquanto elizete olhava aquilo com uma cara enojada, por não suportar homem frouxo. a loira levantou-se e começou a arrastar asa pro agressor, que simplesmente ignorou a insinuação e abraçou cleison, pedindo desculpas com palavras ininteligíveis e acariciando os cabelos do jovem que se colocara em posição fetal, com os nervos em frangalhos. levar um homem àquela situação em público era uma desonra horrível na comunidade em que foi criado.
no fim das contas, a moça mandou todo mundo se foder e foi embora sozinha. o chinês despediu-se com dezenas de reverências desajeitadas e voltou para a cozinha, enquanto cleison recuperou a compostura, sentou-se no meio do restaurante e começou a esfarelar com a mão esquerda os pedaços de granito resultantes da quebra da mesa, para entreter os clientes e quem sabe receber uma ou outra doação.
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Um comentário:
Bah, mulher só arruma problema.
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