segunda-feira, 20 de julho de 2009

sup bitches

cada coisa que me acontece. hoje, durante meu passeio vespertino aqui pelo bairro, sou interrompido por um senhor hirsuto, maltrapilho, de olhos esbugalhados e com um filete de saliva escorrendo pelo canto esquerdo da boca. veio andando em minha direção. tinha como objetivo me agarrar pela camisa, mas não conseguiu se manter em pé e caiu ajoelhado a três metros de mim. respirou fundo, reuniu forças por alguns segundos e levantou a mão direita, com a qual segurava um pedaço de papel sujo, onde se lia umas 5 linhas de texto manuscrito.

sejamos justos: a caligrafia não era de se jogar fora. uma letra redonda, com pingos nos 'i's, 't's cortados e tudo o mais. as linhas eram retas e os caracteres eram proporcionais. até me lembrou de uma história na sexta série, em que uma professora de português chamou um rapaz à lousa para responder a uma questão e o coitado me escreve um absurdo inacreditável. é claro que todo mundo começou a rir e a professora, vendo o moleque todo triste e fodido em cima do estrado, começou a repreender a galera e elogiar a escrita do indivíduo, que fluía bem e era super regular e coisas desse tipo. não sei pra que caralhos chamar alguém pra redigir uma resposta num quadro-negro, de qualquer forma. o ensino fundamental só me traz memórias sem nenhum sentido.

enfim, o velho e seu papel. aliás, não era um papel qualquer, uma embalagem de pão ou algo do tipo, nada que você esperaria receber de um vagabundo. era uma folha meio bege, de boa gramatura, que me lembrava o bloco de receitas da minha endocrinologista, que na mesma semana me havia dito que eu suava demais por causa de excesso de nervosismo. mas que porra de resposta é essa? nervoso por que? você tá andando na rua, pensando em nada, ou então deitado em casa, assistindo à sessão da tarde ou alguma coisa do tipo que esteja passando, e começa a suar: não é claro que há um problema aí? bem, pois diga isso para a dra. cristina, que aparentemente passou não sei quantos anos na faculdade fumando maconha, dando para desconhecidos e aprendendo a diagnosticar doentes com "nervosismo". cada coisa que me acontece.

admito que fiquei impressionado com a qualidade do texto. nenhum problema de regência ou transitividade, pontuação e acentuação no lugar, um vocabulário bastante adequado... muita gente fala que não tem preconceitos, mas se você recebe um bilhete de um mendigo, você espera "mortandela", "iorgute", esse tipo de erro básico que já foi tão útil para a carreira do chico anysio. outro dia mesmo um sobrinho tava contando uma história: ele tava andando pelo bairro atrás de uma lan house e viu dois neguinhos na calçada, vindo em direção a ele. digam o que quiser de mim, mas eu atravesso a rua, ensinei meus filhos a fazer o mesmo, não confio nesses caras. pois bem, o bonitão seguiu o caminho, caiu na balela dos direitos humanos e coisas do tipo, e os faveladinhos fizeram a festa. fica como lição, tem gente que só aprende tomando no cu mesmo.

daí esse esfarrapado me entrega esse bilhete e fica olhando pra mim, com uma cara abobalhada, a mão direita espalmada, em súplica. eram umas cinco horas da tarde, e esse horário é foda, se você demora um pouquinho mais pra chegar na padaria, pega uma fila interminável e aquele paraíba do balcão acaba te atendendo com má vontade, te dá os pães torrados que ficam lá no fundo do forno, e a patroa fica enchendo o saco a noite inteira, porque leu em algum lugar que pão torrado dá câncer. então li o texto rapidinho (ra ser honesto, nem lembro direito sobre o que era), devolvi o papel e desci a rua, apressando o passo.

pensei que ainda dava tempo pra ver as gostosinhas saindo do grupo escolar, mas bah, porra nenhuma. maldito mendigo.

2 comentários:

clarice, claralice, clara alice. disse...

é... não dá pra postar o que tava escrito no papel não, porra? O cara tava até babando...

Anônimo disse...

minha letra no ensino fundamental era SOFRÍVEL.