graças à infeliz mania de ouvir música sempre no volume mais alto possível - meus tímpanos mal podem esperar pra cobrar a conta - quase não percebi que meu nome fora chamado pela recepcionista. levantei, dirigi-me ao balcão e fui recebido pelo dr. humberto, cidadão que, pela voz e trejeitos, caso não esteja militando nas fileiras da pederastia, está desperdiçando um bom potencial. escutei detidamente as instruções, batalhando internamente contra os impulsos de questioná-lo sobre o "drº" bordado em seu jaleco, e me dirigi para a sala de exames.
chegando ao ambiente, fui direcionado para um box em que vários aventais envoltos em sacos plásticos estavam à minha disposição. "recomendo os amarelos", observou drº. humberto, "geralmente são maiores". desconsiderei a aleatoriedade do advérbio utilizado e aceitei a dica. "daí o senhor veste o avental, abertura pra frente, e vá para a sala de radiologia". concordei, apesar de ter dificuldades em imaginar a necessidade de uma vestimenta em que as principais jóias da coroa ficam totalmente expostas, balançando ao vento enquanto eu caminhava pelas instalações.
entrei no recinto que me foi indicado, onde fui surpreendido com a presença de uma mocinha que digitava algo em um computador - e acredito ser interessante ressaltar que aparentemente não era nada tão relacionado ao exame que não pudesse ser feito depois, ou em outro local. com a naturalidade de uma nana gouveia, retorno o simpático "oi" que me foi fornecido e passo a trocar algumas frases com a funcionária, um tanto quanto preocupado com a impressão que ela ficou da extensão do meu falo. vai que é uma formadora de opinião, como naquele cartum de allan sieber que eu linkaria aqui, não fosse a preguiça de sempre. enquanto isso, humberto besuntava minha região púbica.
o médico responsável ordenou: "leva a mão à boca e sopra". embora um pouco desconcertado com a exigência inesperada, fiz o que me foi requisitado. satisfeito com minha performance, o profissional começou a passar um aparelho em áreas que poucas pessoas já tocaram. nessa situação, difícil não vir aquela pergunta de sempre: por que cargas d'água alguém escolhe essa linha de trabalho? isso ficou pela cabeça por alguns segundos, até me lembrar da crise econômica e da dificuldade de penetração do mercado de trabalho para a juventude. além do mais, quem sou eu para julgar o que interessa cada pessoa, não? lamentei brevemente o lapso de intolerância e soprei mais uma vez.
essa rotina de sopros, contatos íntimos e conversa descompromissada prosseguiu por alguns minutos, até que me foi permitido voltar ao pequeno vestiário, descartar o avental e me vestir, momento em que amaldiçoei a decisão de escolher uma roupa de baixo especial para o exame. ninguém nem viu. "poderia ter usado no fim de semana", pensei, apesar de consciente de que o sucesso sexual seria bastante improvável. não sabem o que estão perdendo, essas meninas.
pediram 15 minutos para a disponibilização do resultado, período em que dividi minha atenção entre o aquário da recepção (milhões de plantas, nenhum peixe) e os semblantes da rapaziada que esperava sua vez. enquanto assistiam um programa de entrevistas americano qualquer, estimavam silenciosamente as possibilidades de ter seu pênis extirpado e ponderavam os prós e contras da esterilidade. expressões bem tensas por ali. eu, que estou em dia com as forças kármicas e não tenho muita confiança nesse negócio de medicina, apresentava-me tranquilo, apenas um pouco assombrado com a qualidade de "always the bridesmaid", ep do decemberists. fica como recomendação.
de posse de algumas páginas que atestavam a ausência de problemas, tomei a rua em direção ao estacionamento, onde encontrei meu automóvel em estado um tanto incomum; sua metade direita estava coberta pela poeira avermelhada que domina brasília entre abril e novembro, enquanto a esquerda brilhava depois de uma limpeza muito bem executada. disso, retiramos a principal lição do dia: nunca pague adiantado um lavador de carros.
se bem que agora ficou bem mais fácil de descobrir onde eu parei.
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