enquanto dizia tudo o que se esperava de uma mulher bacana em um momento como aquele, fernanda deslizava seus dedos com destreza pelas teclas do seu celular - já decidida pelo término da relação, que seria oficializado na manhã seguinte, enviava uma mensagem para um caso passado. no outro lado da cama, eu praguejava contra minha sorte e tentava convencê-la de que era uma fase passageira.
guardando a discrição das pessoas de criação familiar, limito-me a dizer que sempre fomos bem felizes embaixo dos lençóis. muita empatia, química, coisa de pele e esquemas do tipo, até o fatídico dia em que ela chega em casa anunciando uma mudança de estilo. antes de entrar, declarou via interfone:
"tenho uma surpresa pra você! abre logo!"
aquiesci, curioso, e ao atender a porta, me deparo com um substancial descréscimo no comprimento de seus cabelos, que antes chegavam até uns quatro dedos abaixo do ombro. nunca gostei muito de madeixas curtas, não aprovei a modificação, mas esse é o tipo de opinião que a gente não escancara. questionado sobre meu parecer, dei a única resposta possível, aquela que foi encravada no cérebro masculino depois de séculos de evolução e violência gerada por retruques indevidos.
"tá linda!"
desde então, nunca mais funcionou.
mesmo naquele dia, já havia notado algo incômodo no novo corte, algo que transcendia a reprovação estética. não consegui identificar, mas aquilo me despertava uma ponta de frustração e descontrole que passou a se manifestar em diversos momentos do dia a dia e realmente florescia na iminência do sexo. somente passadas algumas semanas do fracasso derradeiro e do subsequente pé na bunda, me veio a revelação.
almoçava tranquilamente em um restaurante próximo à repartição onde trabalho quando a proprietária resolveu ligar uma televisão de 14 polegadas que ficava esquecida em um canto - inclusive, nunca tinha notado a existência do aparelho, apesar de sempre comer ali. a primeira imagem que apareceu na tela: sandra annenberg, com uma daquelas expressões faciais exageradas que ela sempre faz. aquele cabelo curto. era isso.
convenhamos: nada mais brochante que a sandra annenberg. aquela expressão grave depois de uma notícia ruim, que se dissipa em cinco nanosegundos em nome de um sorriso forçado e exagerado para introduzir uma reportagem sobre compras de natal. na volta, aquela explosão de simpatia e aquele "que coisa, hein, evaristo?". taí uma mulher que pode aparecer por aqui de cinta liga, com um pote de óleo de massagem numa mão e um diploma de pompoarismo avançado na outra, e meu falo não sairia do ponto morto.
satisfeito pela explicação encontrada, terminei meu bife (não sei vocês, mas sempre deixo a carne por último), paguei a comanda e voltei ao trabalho. no caminho, pensando sobre o caso, concluí que realmente sílvio santos é um gênio - muito boa aquela sacada de colocar a analice nicolau no jornal da sbt. foda que acabei me lembrando do lombardi e fiquei meio triste. tão efêmera, a vida.
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2 comentários:
NEM TODAS MULERES DE CABELO CURTO FICA PARECENO A SANDRINHA OKE
desencanei de cortar o cabelo drasticamente depois desse post... não quero ser uma sandra anhemberg
valeu, haha
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