terça-feira, 29 de julho de 2008

baile dos enxutos

na frente da mesa do dj, três moças dançam animadamente, com movimentos grandes, fazendo piada. parecem estar no início da segunda década da vida e não se destacariam pela beleza em outros ambientes, mas ali são princesas. trocam olhares, falam alguma gracinha e riem alto, talvez pelo ridículo que as cerca, talvez pelo constrangimento de estar participando daquilo.

ao lado delas, um cidadão trajando chinelos e uma blusa colorida de mangas compridas executa passos desengonçados, com ênfase no movimento dos braços. parece bastante concentrado e imerso na tarefa, mas o observador atento nota com facilidade que ele tenta se aproximar devagarzinho das meninas, monitorando com os cantos dos olhos a reação do grupinho. parece falhar miseravelmente.

no lado oposto da pista, três pessoas - dois homens e uma mulher - fazem coreografias. permitem-se muito contato, e o cristão se pergunta qual a relação entre eles. seriam amigos, um casal e um acompanhante ou completos desconhecidos atrás de companheiros de galhofa? ou seriam suas intenções algo mais lascivas? de qualquer jeito, uma coisa era quase certa: alguém morreria na gordinha. nada contra, claro.

perto da entrada, duas moças bebericam cervejas e mexem lentamente os quadris, como se a ocasião não merecesse movimentos mais veementes. trocam olhares com todos. apesar das condições totalmente desfavoráveis, mostravam-se determinadas em sair dali acompanhadas. a loira, em seus mid-30s e com alguns chamarizes físicos, tinha perspectivas de sucesso; a morena estava fadada à solidão. talvez na próxima.

nos bancos ao lado do balcão revezavam-se os rapazes que, depois de pagar os cinco reais do couvert, olhavam desolados para a pista de dança, suspiravam, amaldiçoavam o momento que decidiram entrar ali e finalmente iam embora, depois de uns dez minutos e sem consumir nada. um mix interessante: uma galera de dreadlocks, indies, uns caras com quilos de gel no cabelo. tem dias em que é difícil achar o que fazer em brasília, vou te contar.

em uma cadeira perto das caixas de som, um rapaz puto com a lei que impossibilita o consumo etílico antes da condução automotiva. a fim de beber e ouvir um som minimamente decente, resolveu consultar a programação daquele estabelecimento que ficava ali perto de sua casa e, wouldn't you know, era prometido dub, soul, funk e algo chamado de grooves raros. caía perfeitamente no que se chama de aceitável.

resolveu entrar e já de cara recebeu o golpe auricular: o disk jockey premiava a dúzia de infelizes que sacolejava na sua frente com uma bela seleção de música disco. quer dizer, deve haver um rótulo mais refinado pro que estava tocando, mas ele chamava aquilo de disco. absolutamente inaudível, então ele se dedicou às únicas atividades possíveis: a contemplação e o goró.

não deixa de ser algo divertido, mas cansa rápido. depois de uns quarenta minutos, resolveu ir embora, decisão que foi tomada em sincronia com as três moças quase gatinhas. aproximando-se do caixa, notou a entrada de uma bem fornida senhora, protegida do frio por um casaco azul de aviador e com a cabeça adornada por um boné. pediu um chopp, mas alertou não possuir comanda, o que impedia a cobrança do item. depois perguntou sobre a presença de nilson, que segundo o barman não trabalhava ali já havia mais de ano. triste com a resposta, resolveu ir dançar sozinha em um canto, virada para a parede.

"espero que ela venha na próxima quinta", pensou nosso amigo, enquanto digitava sua senha bancária para a cobrança dos quase vinte reais que a função toda lhe custou.

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