um jovem servidor público assassinou uma colega de trabalho a golpes de grampeador, na frente de diversas pessoas. o rapaz, transtornado pela incapacidade da companheira de atender o telefone ao ouvi-lo tocar (apesar do volume ensurdecedor do aparelho), golpeou a cabeça da vítima por cerca de vinte minutos, destroçando seu crânio e reduzindo sua massa encefálica a um espesso mingau, que ficou espalhado pelo piso da repartição.
ele foi levado a julgamento e sua prisão era considerada como certa, devido ao número de testemunhas e o desinteresse do acusado em omitir sua culpa. alguns imaginavam que ele nem havia contratado um advogado de defesa por não acreditar na possibilidade de sair dali livre, mas na verdade tinha uma carta na manga: um cd.
quando foi solicitado que apresentasse sua defesa, simplesmente retirou a mídia de sua pasta, colocou-a no aparelho de som, levou o volume para o nível médio e apertou o play. dois segundos depois, o tribunal era invadido pelo som estridente e ensurdecedor daquele maldito toque, o mesmo que levou um cidadão calmo e respeitador das leis ao brutal assassinato de uma colega com quem tinha boas relações.
apenas cinco repetições foram necessárias. encerrou sua defesa. o promotor ainda tentou convencer o júri, mas nem ele acreditava no seu sucesso. a deliberação foi rápida e a decisão foi unânime: o agressor estava solto. aquele foi um momento enorme para a justiça brasileira: a partir daquele instante, as maiores cabeças legislativas do país juntaram-se em torno de um objetivo comum e nobre. era hora de levar o bom senso em consideração.
saíram de cena os tribunais. em seu lugar, foram constituídos comitês de bom senso em diversos níveis, encabeçados por uma organização suprema composta pelos maiores expoentes da nação nessa área. o rigor objetivo das leis foi desconsiderado e tudo passou a ser analisado por indivíduos claramente iluminados. gente que coloca a namorada nos ombros em shows e atende o celular no cinema passou a pagar por isso. punições como a "coça na sexta-feira à noite" e "surra de pinto mole" foram popularizadas. o impacto positivo na sociedade foi imediato.
nosso jovem servidor público, depois de sabatinado por alguns desses especialistas, recebeu um convite para ingressar em um desses comitês (não havia concursos públicos para essas posições). ficou extremamente honrado com a oferta, mas recusou - estava satisfeito no seu antigo emprego, em paz, sem ter que aguentar gente sem noção o dia inteiro.
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Um comentário:
o melhor ;p
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