república do camel toe

luciano não sabia por quanto tempo suportaria a pressão. trabalhava como personal trainer numa das maiores academias da cidade e passava o dia inteiro preocupado com o constante fluxo de gostosas pelos aparelhos do estabelecimento. seios saltando de decotes generosos, coxas e glúteos devidamente ressaltados pelas calças apertadas de lycra, gemidos curtos no final de cada repetição. dezenas de loiras e morenas sensacionais diariamente torneando seus corpos em roupas reveladoras, mas ele tinha que se segurar. precisava muito do emprego.

conhecia bem as práticas, os hábitos e os costumes dos profissionais da área. sabia das possíveis consequências de um comentário sobre os atributos físicos daquelas moças com os colegas, e por isso se esforçava para se portar como todos os outros. fazia questão de elogiar efusivamente os bíceps e peitorais dos rapazes que se exercitavam, sempre oferecia sua ajuda ao homem mais robusto em seu campo de visão e participava de todas as discussões sobre as dimensões dos grupos musculares de fulano ou beltrano. atendia as mulheres com simpatia e presteza, mas era diferente: a energia reservada aos varões era especial, contagiante.

de vez em quando, observava com o canto do olho uma donzela qualquer empinando os quadris avantajados ao se alongar, mas era o seu limite. aquela era uma academia de respeito, uma referência no mercado que, como tal, exigia o mais puro e sincero comportamento homoerótico de seus instrutores. afinal de contas, como todos sabem, o segmento dos marombados não aceita menos.