triste, o caso de henrique benga.
começou a vida social como henrique peçanha, já que sempre havia outro henrique na sala de aula e o sobrenome era necessário para diferenciar os homônimos. daí, num dia que começou como todos os outros, estava o rapaz apresentando um trabalho sobre ofídeos quando a professora, provavelmente orgulhosa de sua imensa sagacidade, mandou um "mas olha que bacana, você falando sobre cobras, teu sobrenome é quase peçonha, que coisa, né? hehehe". aí a criatividade da rapaziada correu solta. peçanha é quase peçonha, peçonha é veneno de cobra, cobra é eufemismo pra pênis. pega um sinônimo engraçadinho e pronto. ficou pra vida toda.
henrique levou a alcunha com bom humor por toda a adolescência, até que decidiu pelo curso de administração e começou a se ligar demais nas tendências do rh, nas reportagens sobre empregabilidade, na força da primeira impressão. queria projetar uma imagem de sucesso, passar uma idéia de seriedade e confiança, e fica difícil fazer tudo isso quando você é o benga. até a mãe chamava ele de benga, imagina só. passou os anos seguintes tentando se livrar do apelido, querendo ser o peçanha - achava bacana ser conhecido pelo sobrenome, soava bastante profissional - mas é foda, vai se livrar de brincadeira de infância. é espeto.
aproximando-se o fim do curso, vieram os processos de trainee, as provas de raciocínio lógico, as dinâmicas de grupo, e eu vou te contar, já passei por tudo isso e não é nada fácil. tomei muito ferro, quase todo mundo toma, e henrique não foi exceção, mesmo porque, sejamos francos, não era um rapaz dos mais iluminados. não tinha diferenciais. não fez especialização, não fez estágio na amchan, não fez intercâmbio no kentucky, não fez inglês no yázigi e isso tudo conta. você já entra perdendo.
e ele entrou e saiu perdendo de todos, uns vinte. sentia-se mal, derrotado, incapaz e começou a perder os parafusos. fez as contas, pensou com os botões, ligou os pontos e concluiu que mais de dez anos sendo chamado de benga geraram uma marca indelével, uma cicatriz inescapável na testa que certamente impediria seu triunfo. não segurou a onda e acabou perdendo as estribeiras numa entrevista na deloitte.
observava quieto enquanto uma mocinha analisava detidamente seu currículo. quase 3 minutos depois, ela levanta os olhos do papel, observa henrique por um breve momento e desfere mais um golpe.
"sinto muito. você não se encaixa no perfil desejado."
aí danou-se. descontrolado, alcançou um dos lápis que a empresa fornecia como brinde para os candidatos desprezados e meteu-lhe olho esquerdo adentro. quinze minutos depois, quando os seguranças chegaram, encontraram a funcionária contorcendo-se de dor, enquanto henrique espalhava a palavra 'peçanha' pelas paredes com uma caneta hidrográfica. levaram o rapaz.
nunca mais ouvi falar dele, mas deve ter passado uns dias no xilindró, tomando no cu diariamente. não ache que a vida na cadeia é aquela que você vê nos filmes da globo, meu jovem: se um dia te mandarem pro xadrez, prepare-se para ser alvo diário de sodomia. imagine aquela galera, afro-brasileira em sua maioria, no celibato forçado, dando pouca importância pra higiene pessoal. todo mundo te querendo. se um aviso desses não te dissuadir de uma vida criminosa, eu nem sei mais o que te falar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
olá,
muito bom o teu texto, porém o teu blog possui um ritmo o qual não consigo acompanhar.
enqüanto meu ritmo é cadenciado, estável e sexualmente mais atrativo, o teu é instável, desarmonioso e lento quase parando, como já parou.
freqüentemente acesso este site, mas teus posts não suprem minhas enormes expectativas com a mesma freqüência e velocidade dos acessos.
estranhamente hoje, num lance imprevisível do autor, fiquei muito feliz de ter, em menos de 24 horas, estes maravilhosos posts sobre a paumolescência advinda da lembrança de Sandra Annenberg e a história de vida do nosso amigo Henrique Benga.
caso mantenha este ritmo, nem tudo estará perdido
love &
peace &
cha cha cha
débora!
Postar um comentário