sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

there's no sense in carrying on

tem a melodia, o ritmo, o tempo, baixo, bateria, guitarra e xilofone, mas não tem a letra? dor de cotovelo. é improvável que haja um assunto mais recorrente na música, de laírton e seus teclados a bob dylan, e já ouvi mais de uma vez que artista bom é artista que sofre ("quanto mais triste, mais bonito soa" - DO FALAMANSA, tato).

se tu me fala que nunca ficou à beira das lágrimas por causa de uma canção, não sei o que te digo. o primeiro impulso seria chamar-te de algo nas proximidades de "mentiroso do caralho"; não sendo o caso, espero que você tenha outras válvulas de escape para as coisas que acontecem e acham um canto e se escondem ali e incomodam o tempo inteiro, o tipo de coisa que você vai guardando e guardando e guardando e daqui a um tempo vira câncer. sempre funcionou muito bem para mim abrir as comportas durante uma música que, mais frequentemente do que não, nada tem a ver com a coisa sendo expurgada no momento. surge uma palavra, um elemento, até um sentimento das caixas de som e pronto. acontece o tempo todo quando dirijo.

interessante como isso acontece. você se apropria de uma letra, de um tom de voz, uma mudança de ritmo, um crescendo e faz com que aquilo seja seu, se relacione à sua experiência. vai saber como o cara fez a música! vai saber quem fez a música, se foi um compositor contratado, o baterista que nada tem a ver com a interpretação castigada do vocalista, se foi um vocalista que competentemente se distancia ao máximo quando escreve suas letras. thom yorke, o cidadão que escreveu 'street spirit', 'nude', 'no surprises' e mais dúzias de canções que ainda povoam as atualizações de status de gente triste e deprimida em todo o planeta, uma vez disse que não vê tanta importância na honestidade ao se escrever uma música: apenas faça uma boa música. como me dá raiva essa rapaziada talentosa: imagina o filho da puta escrevendo, sei lá, 'pyramid song' sentado na borda de uma piscina, canelas e pés na água cálida de alguma cidade litorânea na espanha, com o amor da vida sentado ao lado. there was nothing to fear and nothing to doubt.

que sensação espetacular deve ser essa, saber que você causa esse tipo de reação nas pessoas. desde o radiohead, que em determinado ponto dos anos 90/00 poderia ser considerado o maior conjunto musical (melhor termo) do mundo, até a banda da sua cidade cujas músicas você baixou no mp3.com há cerca de quarenta anos atrás. case in point, valv, pessoal de belo horizonte que não cheguei a acompanhar na adolescência devido à minha vigorosa recusa em sair de casa até os 17, mas que é responsável por uma das canções que mais escutei na vida: "over it". tropecei nessa faixa ontem à noite enquanto organizava o itunes e desde então a escutei umas trinta vezes. é um som que tem seu próprio significado para mim pela melodia, pelas guitarras, pela voz e pelas frases que meu inglês de nível intermediário me permitiram identificar - e isso é engraçado: até hoje, por volta das onze da manhã, não conhecia a letra da música inteira.

a música fala sobre dor de cotovelo, o que era esperado, mas uma dor de cotovelo diferente da que eu retirava. sempre pensei que o cara saía pela porta por ter sido chutado; hoje vejo que foi uma opção que posteriormente ele compreendeu ter sido equivocada. não sei o que farei com essa informação, se ignoro ou recebo a música de forma diferente a partir de agora, e como ela vai me tocar daqui pra frente. música é algo tenso, às vezes.

sei que "over it", do valv, é uma grande música e recomendo que vocês procurem ela por aí, deve ter no youtube, myspace, sei lá. se quiserem a mp3, dêem um toque que eu tenho aqui, mas não é muito boa, coisa antiga, 128 kbps, gravação ruim. fica a seu critério.

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