quick and to the pointless

desinteressado pelo convívio social mas preocupado com os sentimentos alheios, renan dirigiu-se à uma barraquinha que vendia "importados" e adquiriu o mp3 player mais barato que encontrou. coisa natural, não fosse uma particularidade: nunca colocaria um arquivo sequer no dispositivo, que apenas carregava na memória "hips don't lie", um simpático brinde do fabricante. "pena que não vem com vídeo, hein, diz aí?", brincou o vendedor, fornecendo involuntariamente um último endosso à compra do rapaz.

renan nunca se interessou por música, nenhum tipo de música. quando adolescente, andava pelo pátio do colégio ouvindo uma fita do raul seixas - presente de uma tia que notou a óbvia conexão entre a juventude e a obra do roqueiro baiano - em seu walkman. apesar do tempo que passou ouvindo aquelas canções, mal se lembrava de alguma delas e nunca buscou outras obras do artista. simplesmente gostava de caminhar sozinho, largado com seus pensamentos. tentaria recuperar essa paz com sua nova compra.

apesar do que parece, não era uma pessoa totalmente anti-social. tinha alguns poucos amigos, que se encontravam com alguma frequência pra jogar rpg. acompanhava o pessoal, mesmo não compartilhando do seu entusiasmo, até algum participante reforçar o estereótipo conferido aos entusiastas do jogo ao colocar no aparelho de som algum disco de metal escandinavo, daqueles em que o vocalista se esgoela como se estivesse sendo escalpelado com lâminas de barbear. sempre acontecia. aquilo realmente irritava renan.

nesse momento, deixava silenciosamente a mesa e procurava um computador, em busca de imagens de adolescentes japonesas sendo penetradas por tentáculos. não sei se vocês estão cientes, mas é um fetiche muito comum por aí. dêem uma olhada no google.